18.4.08

Road Book: Marbelha

Piscina do Rio Real, Marbelha, foto de JMS

Associo Marbelha à minha mais tenra infância e às férias que então fazia, à semelhança de tantas outras famílias portuguesas que queriam mudar de ares sem ter de ir procurar muito longe. Depois, com o passar dos anos, perdi-lhe o rasto e os hábitos mudaram. Não devo ter sido o único. Marbelha, que, na realidade, não é só a cidade, mas também todo um município que ocupa boa parte da costa mediterrânica da província andaluza de Málaga, foi lançada para a ribalta nas décadas de 1950 e 60 ― conta-se que em boa parte se deveu a um tal príncipe Alfonso Hohenhole von Liechtenstein, que terá comprado aqui dez hectares à beira-mar, mais tarde transformados no Marbella Club, e os tornou porto de abrigo dos seus amigos influentes ―, mas, já se sabe, quem se molda aos caprichos dos ricos e famosos está sempre sujeito a, um belo dia, ter de dar lugar a uma nova distracção.


Puerto Banús, Marbelha, foto de JMS


Pátio do Villa Padierna, Marbelha, foto de JMS


Foi o que aconteceu durante a década de 1980, altura em que Marbelha não saiu das revistas do corazón espanholas nem perdeu os favores dos sheiks árabes, mas deixou de ser o destino-sensação do jet set internacional. O golpe foi duro e Marbelha demorou um certo tempo a perceber que novo rumo poderia tomar para não perder mais terreno. Foi então, já a partir da década de 1990, que tratou de sacudir a poeira, capitalizar ao máximo o que possuía de bom ― como o clima, as praias, as marinas e a hospitalidade andaluza ― e investiu a fundo num novo perfil de turista, que vem agora, e cada vez mais, pelas excelentes condições para a prática de golfe.


Puro Oasis del Mar, Marbelha, foto de JMS


Vista da varanda, suite 111 do Rio Real, Marbelha, foto de JMS

Fixado o novo mercado-alvo, mas sem nunca perder de vista que foi e quer continuar a ser uma estância de veraneio com pretensões a figurar nas colunas sociais, Marbelha tem vindo a expandir-se, nem sempre de forma muito airosa do ponto de vista do ordenamento urbanístico, e goza hoje de um elevado padrão de vida, o que faz dela a segunda cidade do mundo com maior registo de Rolls-Royce, por exemplo, e um lugar muito procurado por estrangeiros que, mais do que a elegerem como destino de férias, a escolhem para segunda residência durante boa parte do ano.


Campo de golfe do Rio Real, Marbelha, foto de JMS


Pequeno-almoço no Villa Padierna, Marbelha, foto de JMS

Marbelha virou-se para o futuro. Ainda assim, as novas avenidas como a del Mar, que vai do centro à Playa de Venus, os passeios públicos como o renovado Maritimo, que ladeia a Playa de la Fontanilla, as artérias comerciais como a Severo Ochoa ou a Ricardo Soriano, onde ficam as melhores lojas, ou até mesmo jardins como o de la Constitución, com um auditório no meio, por mais agradáveis que sejam, não têm como rivalizar com o casco antigo da cidade.


C/ Gloria, Marbelha, foto de JMS


Igreja Nossa Senhora da Encarnação, Marbelha, foto de JMS

Com o seu epicentro na Plaza de los Naranjos, toda ela rodeada de edifícios nobres, mas tomada de assalto pelas esplanadas dos cafés e restaurantes que disputam a calçada e a sombra das laranjeiras, o núcleo histórico está praticamente reduzido a um dédalo de ruas pitorescas ― sendo as mais fotogénicas a Carmen, com os vasos de sardinheiras presos nos muros caiados de branco, e a Gloria, sinuosa, que desemboca na pracinha da igreja da Nossa Senhora da Encarnação ― e de algumas praças, como aquela onde fica o castelo e parte das antigas muralhas árabes que defendiam a cidade dos ataques inimigos. É aqui, e praticamente só aqui, que sentimos que da legítima herança andaluza nem tudo foi feito tábua rasa na Costa do Sol.
(a reportagem, na íntegra, será publicada na edição de Maio da revista Rotas & Destinos)

17.4.08

SHE


Depois de uma ausência de quase dois meses, não é que precisasse de uma boa desculpa para voltar a postar, mas, confesso, ter um motivo de peso para o fazer é um excelente incentivo. É que não podia deixar passar este dia em brancas nuvens... Ela merece que eu vença a preguiça, drible a falta de inspiração e esqueça por momentos os afazeres. Ela faz anos hoje e merece tudo de bom que um amigo pode desejar. Parabéns, Martucha!

25.2.08

De olho na TV (2)


Diablo Cody. De stripper a melhor argumentista pelo filme Juno.

19.2.08

De olho na TV



Admito que quando começou, por temer tratar-se de mais uma comédia romântica apatetada, estava prestes a mudar de canal, mas o tipo de narração e os cenários com ar de fábula acabaram por me prender ao pequeno ecrã... Estou a falar do primeiro episódio de
Pushing Daisies, Malmequer, Bem-Me-Quer em português, que passa na Fox Life depois de ter estreado nos EUA em finais de 2007. Acabei seduzido por uma argumento que cruza influências dos universos de Tim Burton a Jean-Pierre Jeunet. Sim, há ali qualquer coisa de Amélie Poulain e isso, por enquanto, ganhou a minha atenção. A ver vamos.

18.2.08

Primavera temporã

Castelo de Sesimbra, foto de JMS


Com a bátega de água - necessária, diga-se de passagem - que se abateu sobre nós, o título pode parecer uma provocação. Mas não é. Digamos que tirei esta imagem há uma semana, na esplanada do café do castelo de Sesimbra (já lá foram?), e desde então não paro de me dizer que, não tarda nada, a Primavera está ai. Pensamento positivo numa segunda-feira sem graça.

8.2.08

Bom fim-de-semana!



A semana foi mais curta do que o habitual, mas, ainda assim, é simpática a perspectiva de ter mais dois dias de descanso pela frente. Para comemorar, acho que vou já hoje enfiar-me numa sala de cinema e assistir a Sedução, Conspiração, de Ang Lee. Bom fim-de-semana!

6.2.08

Atrás dos Montes

Castelo de Bragança, construído a mando de D. Sancho I, foto de JMS


Casario antigo na cidadela medieval de Bragança, foto de JMS


Rio Fervença em Bragança, foto de JMS


Teatro Municipal de Bragança, foto de JMS


Feira do Fumeiro de Vinhais, foto de JMS


Rio de Onor, foto de JMS


Pauliteiros de Miranda, foto de JMS


Sé de Miranda do Douro, foto de JMS


Matar a saudade. A viagem interminável. As pausas para desenrodilhar as pernas e apaziguar o vício. O lanche partilhado. Rir das mesmas coisas. Rir um do outro. O frio que pede agasalho. A alheira a rebentar de sabor. O queijo de ovelha às lascas. O tinto alentejano encorpado. As conversas de pijama. Os suplementos do jornal lidos a meias. O odor a lenha queimada que impregna o ar. O fumo que sobe em anéis baços. O miolo húmido do pão de centeio. A canela que se desprende na massa fofa da bola. O inusitado do feijão que se come na vagem. A posta de carne que se derrete na boca. Pecar por gula com um pudim de castanhas. Vê-la fumar sem culpa. As curvas e as contracurvas do que fica para lá do Marão. A Sé [de Miranda do Douro] de costas voltadas para Espanha. Os homens bons. Os rios Tua, Fervença e Onor. Atalhar por Espanha sempre que se quer encurtar a distância. O café curto e forte. O teatro que parece um cubo. O painel [da Graça Morais]. As carantonhas de madeira e chapa. As cores dos farrapos fundidas num pulo brusco. O som dos chocalhos. As casas enlutadas, as anciãs vestidas de xisto. O castelo. A torre do castelo, a vista do castelo e o casario que se esconde nas muralhas do castelo. A trilha de madeira que atapeta as margens [de Bragança]. Uma manhã de sol. Uma tarde de chuva. Uma noite de vento. Adiar a saudade.